Anna Venne
1 min readJun 14, 2023

mapa de sumir

banho, água

toca a superfície mais alta da cabeça apenas para escorrer pelos dedos dos pés

-

um constante devir:

um anúncio do que a mente sabe que será

e que o corpo há de sentir

o chamego das gotas que vertem sobre a pele

numa micro tempestade em cada superfície dos países deste torso

-

o corpo de felina apenas faz lembrar da escassez de cada gota

a natureza chama que rasgue a carne de sua caça para retirar dela toda água que precisa

ímpeto visceral

exploração das entranhas

nutrindo sua presença pelo sumiço de uma existência

-

o passado faz parte de si

-

lambidas lustram a pele

nenhuma gota de água é gasta ou pedida

mas está ali

-

salivante

presente

acesa

dormente

à espreita

-

por minha caça sou caçada

potencial dionisíaco

-

construo um mapa hidrológico

enquanto tento me lembrar

na esperança de um dia retomar algo que suspeito

nunca ter chegado a começar

Anna Venne

marxista-existencialista. não objetiva a mulher que busca eviscerar-se da carne dos sentimentos.